quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Nunca minhas palavras são lidas. Benção. Sou o escritor dos cegos, dos que nunca me lerão, dos que nunca serão meus. Minhas palavras. São apenas alívio. Minha alma procura as palavras como a um deus. Preciso de palavras. Escritas. Prefiro o silêncio dos sons. Prefiro as palavras escritas. Solidão.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Quem viu o pavio aceso do destino?

Ver minha música ecoar vazia nos ouvidos das pessoas. Ver minha música. Sua beleza existe? Que beleza? Ver minha música acoando e ressoando o não-sentido, o sem-sentido. Tudo isso, assim, de repente. Ver minha música. Ouvi-la, antigo sonho, cantada pelos grandes. Ah! Que fazer, se nasci com a mediocridade da maioria? Se sou reles? Se sou baixo? De uma baixeza que, pasmem, não havia, até agora, me apercebido. Sim! Sou de uma baixeza outra! Mais baixa e mais vil e mais reles do que consigo imaginar. Minha música, seus versos, suas estrofes, suas rimas, suas não-rimas, seus desesperos! Tudo a mais clara e evidente - como queria Descartes! - degenerescência. Sim! Vou me dar aos ternos, aos relógios. Sou reles demais para a existência do artista. Sou reles demais para as existências nobres. Vivo o mundo dos medíocres, sonhando as alturas dos compositores. Sonho vão. Volto sempre à minha condição operária! Viva a pobreza do meu espírito! 
Palavras. Exigem: palavras. E eu? A cultivar meu silêncio incólume, intocado. Ignorando o grito dos que possuem palavras em demasia. Eu quero o silêncio. Deuses, filosofias, teologias, misticismos. Quero silenciar, apenas. Respeitem

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Umas palavras

Nos ouvidos, Para ver as meninas. No peito, o desejo de compor outro samba. Nas pernas, o cansaço de deitar. Nos olhos, a estafa das luzes insistentes dos aparelhos domésticos. Nos dedos, a sensação recente das cordas do violão, agora deitado sobre a cama vazia. Hoje eu vou fazer, ao meu jeito, eu vou fazer um samba sobre o infinito.

terça-feira, 18 de outubro de 2011

O meu silêncio é uma doença. Afeta. E os afetos são doença. Lembro do whisky, do silêncio das madrugadas da pequena cidade, do céu escondido entre as nuvens negras, amanhã chove. Lembro Aldir Blanc. Vida Noturna. Penso no desespero, no desespero de ser o que se detesta. A língua, colada ao paladar, pede outro trago, um copo d'água, uma dose, algo que molhe os sentidos, os instintos, o restante da dignidade que resta aos que se tratam por inúteis. Penso a madrugada. Solta. Sozinha. Bastar-se a si mesmo. Andar, sem o auxílio do automóvel, sem o auxílio das autos. Só as pernas, um pouco trôpegas, sem o rumo natural, sem o prumo natural, aprendido nos primeiros anos da vida. Saudades das pernas, andando vadias as noites perdidas, isentas da ânsia das significações, da semiologia capitalista da utilidade. Prefiro, ainda que dolorosamente, o silêncio.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Prestíssimo: Um Conto - 1ª Parte [reescrita]

Acordou. Lembranças. Adormecera pensando no amor. Era Joana. Na cozinha, sentou-se. Silêncio. Era Joana. A presença inesperada de Joana nos primeiros instantes do dia lançou em seu espírito uma questão irrecusável. Era o amor. Pensava. O amor, assim, traduzido na pele de Joana. Nos poros. Nos olhos. Nos seios. Era Joana. Levantou-se. Oito horas. Exausto, porém leve, vestia camisa, calça, sapatos. Era o amor. As coisas, os móveis, os talheres, os chinelos, o versos antigos, deitados em velhos cadernos, os perfumes. Tudo perdera sentido. Era Joana.

domingo, 9 de outubro de 2011

Domingo cinza. Palavras? Poucas. E cinzas. Tenho pensado a vida e as tristezas. Inquietude.

domingo, 2 de outubro de 2011

O relógio, estranho inimigo, aponta suas horas intermináveis. O tempo passa devagar. E os pensamentos são muitos. E as palavras, poucas. Voltei à Parafernália dos pensamentos. Voltei à solidão insone dos que vivem os segundos das madrugadas, dos que mergulham pensamentos em mais pensamentos. Hoje fui interpelado sobre a seriedade dos sentimentos que sinto. Estranho modo de conhecer uma verdade sobre o que sinto: perguntando-me sobre seriedade. Eu, o rancoroso com a existência. Mas esqueçamos. Falemos sobre o vazio. Assunto corriqueiro nos textos desprovidos de sentido que escrevo. Falemos de política. Não, política, não. Falemos de Deus. Melhor. Noutra hora. Falemos da madrugada. Dos silêncios absurdos. Dos vazios que se fazem ouvir, nas madrugadas insones. Falemos do vizinho que, logo cedo, insiste num trabalho profundamente desnecessário. Mania de velhos aposentados: consertar coisas velhas, reutilizá-las. Por que, simplesmente, não dorme? Por que, simplesmente, não lê? Mania do velho moço jovem que sou. Ontem falei com o Maza. Abandono. Esse meu espírito amigo sentirá a ausência do companheiro das horas insanas. Rever Maza, uma missão para os próximos dias. Saudades do meu violão. Tenho abandonado minhas cordas. Estão soltas, sobre a cama, amargando um abandono triste. Preciso voltar aos acordes. Minha poesia. Saudades 

sábado, 1 de outubro de 2011

Voltando, aos poucos

Ouvindo Moacyr. Manhã lenta. Um vento lento, soprando as folhas e as roupas suspensas nos varais. Errar é meu gesto, é meu jeito. Observo o tempo com a paciência inexperiente de uma mãe solteira. Mas há gritos, por dentro, esperando o tempo chegar. A conversa solta dos botecos, dos trôpegos, dos que sustentam frases absurdas, por orgulho bêbado. Ando distante das palavras. Mas, sempre volto às palavras. Um pouco mais confuso, é certo. Rumos da minha filosofia. Enfim, preciso do Rio de Janeiro. Volto, em breve.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Minhas palavras estão soltas no tempo e no silêncio que faço quando calo. Meu parafernália grita, aqui dentro, como um filho. Merecedor dos meus escritos nunca lidos. Meu refúgio. Escrever para não ser lido. No último final de semana, estivemos no samba. Estivemos. Essa duplicidade que me constitui como sujeito existente. Nas palavras do gênio: Elaeu. Essa entidade inventada pela genialidade de Tom Zé. Deixo de ser nela. Ela, por sua vez, deixa de ser no Elaeu. Enfim, poucas palavras pra hoje. Volto à televisão, procurando um entorpecimento que me satisfaça!

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Acordei. E a velha e conhecida dor no fundo raso dos pensamentos. Experiência do álcool que restou no sangue das noites passadas. Uma tristeza nova. Não ser o homem de 29 anos. Não ser a representação ideal da humanidade que cerca essa miséria de homem que sou. Um artista. A antiga tensão entre o destino e a escolha. Aos diabos! Essas discussões sobre subjetividades, sobre modos de estar na vida, na existência. Até quando, a desistência de si mesmo? Apenas revoltas. 

segunda-feira, 15 de agosto de 2011


Nenhum adeus é feliz
e, quanto ao adeus,
disse Deus,
antes de fazer o mundo torto
e envolto em breu:
Usai-o com moderação!

(13 de Agosto de 2011)


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

A minha escrita é do tempo da música que me inspira enquanto escrevo. Não penso. Apenas escrevo, antes que o último acorde, o último verso, a última rima ecoem. Minhas palavras correm, saltam, pelos dedos, no teclado do notebook que comprei, justamente, para enfiar minha solidão. A minha escrita é o desespero do instante que antecede o gozo. E explode, num prazer intenso, pelos dedos. Sim, sempre os mesmo dedos! A minha escrita é um canto, uma louvação pagã, infiel, perdida. Minhas palavras dançam, pelos dedos, como mulheres frívolas, na promiscuidade do sentido, e vão, aos poucos, tecendo significados nos olhos vazios dos leitores que me seguem. Eu, gritando como um louco, prefiro o silêncio de minhas palavras, quando solitárias. Os leitores, enfadonhos leitores! Sempre buscam, nas minhas palavras, a si próprios. Ou, ainda pior, e mais cruel, buscam nelas, nas minhas rotas palavras, aquilo que sou. Eu, justamente eu, que nunca fui nada! Ah! Enfadonhos! Me querem, em cada letra que derramo. Cansados, desistem. Nunca estou nas minhas palavras!

terça-feira, 2 de agosto de 2011

Ode ao nascimento

Ontem nasceu uma pequena, filha de dois queridos amigos. Encontros. Desencontros. Beberemos sua chegada, em breve. Estamos felizes. Por um instante, a vida intensificou nossas sensações, nossas percepções. Sempre o nascimento nos impõe o sentimento de espanto diante da vida. Uma pequena. Com os olhos, ainda, cerrados. Com as cores, ainda, indefinidas. Com o espírito, ainda, incompleto. Pensar a vida como instante, a isso nos impulsiona o nascimento. Há tempos tenho visto crianças nascendo. Estou ficando velho. E o tempo? Sempre fazendo o seu trabalho: nos substituindo.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Caminhadas. Meus pensamentos. A vontade. Meu estilo na escrita, determinado pelos modos de minha existência, incomoda. Tenho existido. Chamas-me "inconsequente". Prefiro assim, desculpe. Escolhi assim. Prefiro o desregramento. Aversão à racionalidade? Talvez. Ou ainda, quiçá, uma espécie de desistência frente à contingência, caráter mais íntimo da vida mesma. Penso em existir apenas. Contas bancárias me cansam. "Aquariano" clássico, diz-me. Na sua voz, as definições parecem mais plenas. Ou ainda mais. Desde há tempo, essa procura - ou pergunta? - pelo sentido metafísico das coisas tem ocupado meus pensamentos. Deus? A linguagem? O não-sentido? O Eterno Retorno? Nietzsche? Não. O sentido das coisas? O corpo, os seios, as pernas, as coxas, os dedos, as mãos, os olhos, os cabelos, o pescoço, os pés. O sentido íntimo das coisas é o corpo, o desejo. O inebriamento instantâneo e eterno do orgasmo. Eis o sentido!   

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Deus. Uma pergunta. Observo, atentamente, os discursos proferidos. Meu velho amigo, Nilo Braga, do além-mundo, estigmatiza: Deus existe. Narrações do Bertini. Devo confiar. Ontem conheci uma senhora que me disse "Deus" com a vivacidade dos que se permeiam de esperanças. Deus. Penso. Algumas questões não deveriam ser narráveis. Eu ando preferindo o silêncio da escuta. A linguagem. Deus. Pensar Deus como símbolo, ainda que sob a égide do sentimento religioso da fé, parece uma saída possível. Pensar Deus como sentido. Preciso dormir um pouco. Ando com insônias terríveis.

domingo, 24 de julho de 2011

Escrevo

Escrever como quem se despe. Escrever como quem nasce. Como quem rebenta absorto da novidade na qual a realidade se planta terrivelmente. Escrever como quem, extasiado, vislumbra uma possibilidade para a existência. Assim escrevo. Como mulheres desgraçadas. Como mendigo, na baixeza própria da condição andarilha. Escrevo com parca habilidade, confesso. São só palavras arremessadas no espaço branco. Escrevo como quem se desespera, como quem expurga seus demônios, como quem clama uma benção, como quem clama pelo beijo arrebatador da amada, lançado a seus pés terríveis, que pisam fundo o peito do amado e ri-se do destino deste que, sob seus pés, anula seu estado metafísico. Escrevo como quem samba. Sem considerações demasiadas. Escrevo como quem transa. Sem maquinações posicionais, sem estratégias. Ou ainda, com estratégias traçadas no intenso do desejo, do descontrole. Escrevo como quem goza. Um instante, e as palavras saltam, desprevenidas, atingindo o âmago e o estado mais íntimo das humanidades. Escrevo como quem dorme, inocentemente. Escrevo como quem bebe. Com o destino do dia-seguinte. Escrevo como quem sonho, inconsciente!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Tenho meus vícios. Antigos. Tenho também cultivado novos vícios. Vícios.

Hoje, enquanto pensava, resolvi por um novo projeto. Inveja, equilibrada, dos feitos literários do grande Moacyr Luz, em "Botequim de bêbado tem dono", lançado em 2008 pela Desiderata. Enfim, meu novo projeto consiste em descrever os bares pelos quais tenho andado, pelos quais andarei.

Nesse prefácio, no entanto, quero apenas me dedicar às primeiras proposições, sem as especificidades.

Vamos. Ao assunto. Há anos, sou frequentador assíduo de botecos, biroscas, botequins requintados, pés-no-chão temíveis, bares sem porta, bares com e sem balcão de pedra fria, bares frequentados pelo núcleo familiar mais tradicional, pelas prostitutas, pelos motoqueiros, pelos adolecentes ventindo roupas punk, pelos miseráveis, pelos esnobes, pelos políticos, pelos artistas. Bares calmos, agitadíssimos. Bares feios, bonitos, tradicionais, saudosos. Bares feitos nas calçadas, em casas antigas. Vi bares inaugurandos suas atividades. Vi bares encerrando suas serventias. Vi bares, simplesmente. São essas história, as colhidas nas longas horas em que o bar representou um desvio da vbida, que serão narradas, eventualmente, aqui. Do mais, volto em breve. 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Prestíssimo: Um Conto (Parte I)

Acordou. Lembranças. Havia adormecido pensando no amor. Era Joana. Na cozinha, sentou-se. Silêncio. Era Joana. Essa presença inesperada de Joana nos primeiros instantes do dia lançou em seu espírito uma questão irresistível. Era o amor. Pensava. O amor, assim, traduzido na pele de Joana. Nos poros. Nos olhos. Nos seios. Era Joana. Levantou-se. Eram oito horas. Exausto, porém leve, vestia camisa, calça, sapato. Era o amor. As coisas, os móveis, os talheres, os chinelos, o versos antigos, deitados em velhos cadernos, os perfumes. Tudo perdera sentido. Era Joana.    

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Caminhando. Ouvindo Márcia. 1974. Caminhos. Tenho experimentado a vida sem as distâncias que nos acostumamos a suportar. Tenho caminhado pouco.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Cansado dos esquemas e das complexidades filosóficas. Prefiro o desespero da vida intensa. Prefiro a vida vivida em sua intensidade, em sua condição mesma. Sem os conceitos. Prefiro a coragem de me tornar outro, de assumir a vida como possibilidade, como fresta, como ruptura agressiva. Eu prefiro a radicalidade das oposições, das contrariedades, daquilo que não se explica, daquilo que não se diz. Eu prefiro o entorpecimento do estado dionisíaco, da euforia dionisíaca, da quebra com os paradigmas que construí. Paradigmas que não me queriam outro. Prefiro a perdição do desprendimento com os modelos que me foram dados prontos. Estou sentado à mesa de uma sala que desconhecia. Em gesso, sobre o móvel, uma peça retrata uma ceia, a Santa. Ando cansado com representações. Prefiro o estado inebriado do esquecimento. A reunião, em torno do Cristo. Eu prefiro a solidão e o silêncio. Tenho experimentado as palavras, os poemas, as canções. Cansado das precauções. Prefiro o risco, a berlinda, o jogo, a disputa. Cansado das domesticações do gosto, do rosto, das roupas. Prefiro o desnudamento. Ah! O desnudamento!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Ando com o tempo à espreita. A espreita dos acontecimentos em meu espírito. Do que escrevo, pouco é lido com a sinceridade de um rosto corado. O que não tem mais jeito de dissimular! Estou cansado. Escrevo mais tarde...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Quem vai escapar ileso do medo e do desatino? Ando descrente do destino. Do destino como sobrenaturalidade. Tenho pensado no existencialismo como uma saída coerente. Somos todos, inevitavelmente, construção de nós mesmos. Penso na existência como acontecimento. No entanto, todo acontecimento é produzido por uma gama de escolhas que fazemos. Escolhas. Desatino de Deus! Livre arbítrio. Escolhemos, e isso é tudo! Escolhemos, simplesmente! Escolhemos! Eis nossa condição mais trágica, mais humana, mais essencial, mais substancial, mais terrível, mais carnal! Eu quero é botar me bloco na rua! Brincar! Botar pra gemer! 
Volto. Com palavras outras. Há pouco, meu estado barroco incomodou alguns leitores. Eu prefiro escrever pelas vielas dos textos, pelas idas, pelas vindas, pelas entrelinhas, com os sentidos ocultos nos silêncios. Aliás, há muito tenho permanecido devotado a meu silêncio. Apreciando outras vozes. Esquecendo a minha. Uma voz. Para quem quer se soltar, invento o cais. Milton. Invento mais que a solidão me dá! Ouço, nos últimos tempos, as injurias dos que me dizem um tresloucado, uma espécie de maldito, daqueles que confeccionam os seus destinos na radicalidade das escolhas. Talvez o seja. Afinal, nunca fui dado demasiadamente à racionalidade. Mas advogo - como se fosse, mesmo, ouvido! Eu prefiro a ruptura dolorosa a dor paulatina do conta-gotas. Prefiro o silêncio abrupto. Triste. Ando com os pés cansados. Culpa do sapato? Tenho, como disse outrora, frequentado os botequins mais sujos de minha cidade natal. Aprendendo com a crosta de sujeira dos balcões como se desenrolar na vida mesmo, sem as máscaras, sem a polidez, sem as estruturas dos que se fiam às explicações sobre tudo. Cada crosta de sujeira, me recorda o meu estado mais íntimo, desvela meu espírito como jamais o desvelou a Teologia que aprendi desde a tenra infância. Esta ou aquela gota de óleo derramada da pastel que o China me frita antes de surgirem os primeiros raios do sol, me dizem: "És assim!". Sou. Esqueço. Sou assim.

sábado, 25 de junho de 2011

Visitando os botecos da velha cidade. Experiências. Fígado. Os velhos amigos, vilipendiados pela minha condição, sendo como que obrigados às experiências mais diversas. Cervejas, conhaques, caipirinhas, baguaceiras, whiskies, cachaças. Amigo é pra essas coisas. Ando sem palavras, sem expressões marcantes. Preferindo o silêncio e o sorriso solto. Modos de escapar à realidade.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

A Marcha do Sétimo Pecado. Velho Bertini. Tenho os ouvidos voltados aos versos. Só o silêncio ecoa e abençoa aqueles corpos nus! Ando caminhando entre músicas e trepidações! A ânsia da vida! Da vida mesma, sem as máscaras que confeccionamos para vivê-la! Sem as anestesias, por vezes tão necessárias! Em nome de Deus me carregue e me pregue em sua cruz! Sérgio Sampaio! Versos mal aprendidos na infância, ainda que forçosamente! Tempos em que colhia as migualhas das audições dos mais velhos. Em nome de Deus me carregue e me pregue em sua cruz! Ando com as palavras nos dedos! Nos dedos que batem o teclado do notebook! Os dedos que batem as cordas do velho e bom companheiro! Músicas! Ñão posso fazer nada! Sou só um compositor popular. Sérgio Sampaio!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Entre papéis e lágrimas


Ando entre papéis antigos e lágrimas. Lembranças. Arrependimentos. Ouvindo Dolores. As dores e suas evidências. Projetos perdidos nos papéis, para os quais devotei energia. A vida. Feita de carnavais e quartas-feiras. Feita de rodoviárias. Feita de idas e vindas. De sorrisos. De lágrimas espremidas, que saltam desobedientes dos olhos que as cerram, em vão. Sofro tristezas, sem ressentimentos. Sofro cada uma delas. E as sofro como se fossem mesmo necessárias! Como se tristezas não fossem! Enfim, persisto nas lágrimas. Limpam o pensamento!

terça-feira, 14 de junho de 2011

Silêncio. Tudo que ouço é silêncio e desespero. São 23:38. Silêncio. Os vizinhos dormem cedo. Minha insônia. Fico a colher pensamentos, envolto no problemático da vida! Penso. E, do pensar que produzo, resta o sentimento pontiagudo da agonia. Eterno é o retorno do mesmo! E se vivessemos outras centenas de vezes a vida que vivemos? Nietzsche! Tenho os olhos perdidos. Paredes brancas. Um programa televisivo que não me atrai. Serve, apenas, para criar a ilusão da companhia, uma companhia psicótica. Que regurgita as asneiras de cada dia. Dai-nos hoje, ó Deus! Nessas semanas longas, onde o pensamento é a única subversão possível, aguardo ansiosamente a chegada dos dias sem trabalho! Espero as mesas abarrotadas do esquecimento proveniente do desespero e do alcool! Espero a conversa fortuíta! O estremecimento! A amizade coletada nos becos, nas ruelas, nos precipícios! Por hora, resta o silêncio!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

As pessoas insistem em perguntar quem sou. Eu? Sou? Esse ponto abscuro da existência! Essa necessidade inquieta pelo conhecimento-de-si! Aos diabos! Quem sou! O que posso eu saber do que sou? Eu queria o consolo religioso e metafísico dos que se configuraram para ser! Mas não os tenho! Sou?! Essa questão entre-dentes, que sai apertada da boca dos famigerados que procuram o sentido de todas as coisas! Eu prefiro a loucura! O não-ser mais radical e absurdo! Eu prefiro as indefinições, as incertezas, as incoerências, os erros, os descaminhos! O que sou? Quem sou? A quem interessar: não sou!

sábado, 11 de junho de 2011

Alguns estranhamentos em meus pulmões lembram Noel Rosa. Madrugadas frias, essas últimas. Andando. Brindando uma vanidade aqui, outra acolá. Batendo cordas rotas de um violão vadio. Sempre à espreita dos copos mais cheios! E o que penso disso? Prefiro calar. Abro parêntese. Um pequeno aforismo, encontrado nas lixeiras:

Sempre os meus alunos mais brilhantes chamavam-se José, Antônio, João, Maria. Nenhum desses chegará, finalmente, a insanidade! Quantas são as Marias tresloucadas? Quantas são as santas e beatas? Nunca uma existência tão nobre em suas motivações será tão viva nas contradições humanas! Nunca conheci um gênio que se quisesse José!

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Anoitecer. Zé Miguel Wisnik. Dessa hora tenho medo. Hoje? A mediocridade. O poder exercido às migalhas! O poder medíocre dos que comandam um número ínfimo de funcionarios indiretos. E ri. Um riso sarcástico. Os que se aventuram no poder - libido dominandi. Desejo e domínio. Desejo de menorizar o outro. Vi a estupidez dos que envelheceram. Dos velhos e de seus destinos estúpidos. Vivo em uma cidade de católicos, de santos beatos. Eu? Um degredado. Um estrangeiro! Em cada esquina dessa cidade, um ar de superioridade. Medíocres. E nós, os músicos, recolhendo, pelo chão, o favor dos que suportam nossa cultura de negros. Aqui, há um Igreja enorme, bonita, com grandes blocos, que fora construída em 1886, pelos escravos. Cartão Postal da indignidade de nossa cidade? Não, ao contrário! Reverenciada com honra - por brancos e negros ressentidos. Eu prefiro evitá-la!

domingo, 5 de junho de 2011

O corpo dói. Sente. As experiências etílicas andam devastadoras. No caso, a infinita busca, conscientemente já fracassada, pelo sentido das coisas. Impossível ignorar Fernando Pessoa: O único sentido íntimo das coisas, é elas não terem sentído íntimo nenhum. Os vícios. Um modo de esquecer a vida. Essa, a dignidade em que cada vício se faz nobre: o entorpecimento! Estar na vida, atuando nela, conscientemente. E a inconsciência? E a embriaguez? E o estômago? Não são tão ou mais dignos modos de estar na vida? Para além do blábláblá acadêmico e frio das universidades, dos discursos costurados em fios de convicção e certeza! Eu prefiro o confuso absurdo da vida mesmo, da vida sem o racionalismo cartesiano. Da vida como fenômeno, como acontecimento! Estou com frio! Maldita estação! Preciso do Whisky! 

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Insônia

Os minutos são lentos para os que se demoram a cerrar os olhos. E o whisky parece perder o antigo efeito, o sono calmo e divino. Insônia. Hoje li Roland Barthes. Fragmentos de um discuro amoroso. Belíssimo exemplar de uma escrita feita sem o pedantismo burocrático das filosofias! "O que em mim ressoa é o que conheço com o meu corpo: qualquer coisa de ténue e de agudo desperta bruscamente este corpo que, entretanto, adormecia no conhecimento pensado" (Roland Barthes). Em pouco, vou encarar a angústia dos programas televisivos. Eventualmente, Jô Soares me faz dormir! Jô e whisky com gelo! É quase uma pedida! Daquelas que se faz no reduto da intimidade com o dono do bar! "Ei! Tião! Me vê um Jô, whisky e gelo, ok?" Preciso voltar ao Bar 13! Saudades! Ando com contas pendentes! É preciso saber dever nos botecos! Sustenta as amizades! Mas, há horas em que pagar se faz necessário! Farei isso! Um dia!

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Penso. Comendo. São biscoitos. Ouvindo Los Hermanos. Desengavetando discos antigos! Saudades! Do amigo Nilo! Da embriaguez insana! De estar lançado no corpo! De dançar! Da simplicidade! É tudo cansaço e whisky! Hoje, lecionando, reparei em algo. Friedrich Nietzsche e Epicuro! Por uma ética do corpo! Do prazer como transgressão! Como transvaloração! É preciso força pra sonhar e perceber que a estrada vai além do que se vê - Los Hermanos!

terça-feira, 31 de maio de 2011

Entre Chopin e Clara Nunes: uma guerra!

Volto a Chopin. Concerto para Piano #1 em Mi Menor Op. 11. B. 53-2. O silêncio do eremita que tenho sido nos últimos dois dias, ressoam em cada nota, acorde, arpejo. E eu? Arquejo, apenas. Com o incômodo ininterrupto do estômago mal alimentado. Noite regada a whisky e schweppes. Ouço. A solidão. Seus silêncios. Suas tardes longas. E noites intermináveis. Os de espírito forte, os que se dedicaram ao silêncio, resistem! Os que aceitaram a finitude das existências e o não-sentido como potência de si mesmo, desbravam os silêncios com grandeza! E a solidão volta! E, aos berros, exige silêncio! Eu me sobreponho ainda mais uma vez! Transvaloração de todos os valores! A máxima nietzscheana! O ímpeto! Essa guerra! Pensamento e silêncio travam uma batalha incansável, austera! Lutam! Chopin! Eis minhas armas! Chopin! E a embriaguez do whisky, que me faz cantar os sambas mais bonitos! Artifício! Os agudos! Os graves! Clara Nunes! O espírito, que, agora, insuflado e túrgido de coragem e trompas e trompetes e tímpanos, parece vencer! O peito, ainda que exausto, regozija-se! Vencido o silêncio, volto a Chopin! E descanço!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Das dores no corpo

Triste estar sozinho. É tudo tão silencioso. E o silêncio, esse vício nefasto! Ouço Chopin. Apenas para expurgar as dores que me perduram no corpo. Experiência etílica inevitável, também denominada ressaca, e que pode ser docemente vivenciada, também, somada à tristeza e ao desespero. Ciência dos desregrados? Quem sabe?
Meta o dedo na logia, moça
Metodologia
Deixe a louça e tire a roupa, moça
Hora da orgia
E a orgia é só felicidade, moça
Adoça o azedo da agonia

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Sobre o som

Tenho os ouvidos atentos. Ainda que cultive o silêncio, ouço. Inevitável, essa existência auditiva! E como são estranhos os sons da cidade! As janelas, noites inteiras, gemem! Os carros, buzinam! Os homens espirram, escarram, conversam! E como conversam! Futilidades, frivolidades! Desmanchados em riso! Um riso demoníaco, que se expande, expande, expande! Sonoridade! Insanidade! Eu? Eu ouço absurdos, apenas! Apenas! Uma imensidão de palavras estúpidas! Histerias e histrionismo! Exageros! As palavras da multidão, do povo! Dos que rezam em cada sentença! Rezam quando gemem! Rezam quando ensinam! Ando cansado da sonoridade das cidades! Dos motores! Do canto dos pássaros que acordam sempre cedo! Mania de metrópole! Eu, portanto, vou regressar ao silêncio. Volto em breve!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Sobre o último Domingo

E o mundo, dando de ombros para os que, trôpegos, rezam suas idiossíncrasias, caminha. Do outro lado da rua, as meninas, moças de família, olham espantadas as prostitutas que cantam suas alegrias na decrepitude de um bar de esquina. Bares. Eu prefiro caminhar entre os mais baixos, entre as más companhias. Prefiro a boca-suja dos que se dedicam a esquecer a existência com sinceridade e desespero. E o mundo, dando de ombro, esquece-nos! Ignora-nos! Eis, a nossa felicidade! A felicidade mais intensa: o esquecimento! E as meninas, agora sedentas, com os seios sobressalentes e arfantes, nos olham com inveja! Somos felizes! Nós, os que se devotam ao esquecimento! E essa nossa felicidade estapea a suas medíocres existências, reduzidas que são aos valores, ao polimento dos valores mais arcaicos! E o mundo, dando de ombros, ri! E nós rimos todos! Extasiados com a embriaguez do álcool! Extasiados com a embriaguez da liberdade! Da liberdade de existir, apesar dos outros!  

Retomando os cadernos antigos III

O poeta explora a poesia pela insônia
e a musculatura de uma coxa dura é o espasmo,
pura sensação, colapso!
Corpos são placas tectônicas!
E a paixão é a evolução da espécie!

Retomando os cadernos antigos II

Cala boca, José
E arranca do teu corpo essa roupa, José!
Lança essa vergonha no chão!
Larga a louça, José!
Deixa de banhar os utensílios!
Deixa de acalmar os teus delírios!
Que eles são feitos de fogo!
Esqueça os teus livros, José!
Que são vento sem destino!
Deita ao meu lado, José!
Que o sentido desfalecerá!

(Algum dia de 2008)

sábado, 14 de maio de 2011

Eu, caro amigo, prefiro a simplicidade da gelada bebida nos balcões de mármore, naqueles dias em que se bebe aos poucos, sem a pressa costumeira do cotidiano, sem o cansaço das burocracias. Trabalho. Universidade. Eu prefiro o gosto amargo das conversas desprovidades da seriedade reflexiva das filosofias e de seus filósofos. Ando com saudades dos antigos. Ando vasculhando os antigos. Procurando-me. Antigo. Ando com saudades da infância. Eu. Que pensava distante essas sensações! Parece que hoje se aproximam. Sensações estranhas. Ando com as costas doloridas. Efeito do tempo. Costas e pensamentos. Parecem, ambos, doer. Continuemos. Por enquanto, as saudades da gelada, da simplicidade de um copo americado brindado, conscientemente, em vão. 

Retomando os cadernos antigos!

Nunca fui poeta

Quando me disseram poeta, ri
Nunca fui poeta!
E se me afirmam alcóolatra, aplaudo!
Aproximaram-me do mundo, ao menos!
É um erro grave dizer-me um e outro!
Eu, que nunca fui nada!
O que de bom ou reles fui, fez-se nada!
Hoje, ainda, fui ainda menos!
Não busquei formar-me!
Não li os doutos!
Sequer ouvi as sinfonias!
Pretendia, mesmo, era esquecer-me!
Enfim,
Lembrei-me de escrever se havia sido!
(...)
Perdi o tempo!

(28 de Novembro de 2008)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Tenho poucos leitores. Satisfeito. Nessa semana, uma pessoa leu minhas palavras. Estou quase certo que seja você, Mazu! Andemos com nossa solidão inescrutável, com nosso silêncio primordial que, na verdade, é sonoridade velada. Eu, sinceramente, agradeço o tempo devotado às palavras do antigo amigo. Palavras são assim. Quando não lidas, dedicam-se a ocupar um silêncio por demais severo. Eu, com sincero coração, ainda prefiro o silêncio.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Sobre o outro

Penso nos outros. Na incomensurabilidade dos outros. Esses outros. E tantos outros. Caminhando com suas vidas pelas vielas da vida mesmo. Encontrando sentidos. Aceitando sentidos enlatados. Perdendo os sentidos. Penso no outro como uma espécie de espetáculo. O espetáculo big brother, o outro-exposto. Penso o outro como uma espécie de vazio. Ou ainda, o outro como abismo. Queria enxergar essa dimensão, tão profunda, do outro. Ainda mais triste. Penso no outro-espelho. Apenas o lado inverso do que sou. O outro de mim mesmo. Mas o avesso. O outro-eu. Logo eu, essa enormidade do tantos outros. Prefiro permanecer no silêncio, no outro como silêncio-de-si-mesmo. Na indiscernibilidade do outro como fenômeno. Das aparências, apenas os traços mais superficiais. Das formas, apenas aquelas que traçam linhas tênues, que se desmancham com a leveza dos ventos, com as brisas. Prefiro, mesmo, o silêncio do outro. A glória do silêncio do outro. Que nada dirá de si mesmo. Um eterno e imutável silêncio-de-si-mesmo. Prefiro, mesmo, o pensamento. Como estado único e individualizante de tantos outros possíveis. Eis, meu silêncio... 

Porque, Cláudia Leite?

Prefiro, apenas, narrar a experiência. Façam suas conclusões. Era terça-feira. Uma daquelas terças-feiras em que o sol, radiante e majestoso, brilhava mais que intensamente. Deitei-me. Na sala. Onde uma levíssima brisa, como que uma benção divina, aliviava os calores do corpo destinado ao descontrole térmico. Resolvi, então, para melhor aliviar uma tarde como esta, ouvir o disco que acabara de comprar, numa barganha sensacional com o dono do Sebo Cultural. O disco era Tom. Simplesmente Tom. Cantando, entre tantas, sua Luíza. Mas, infelizmente, meu dia estava fadado à miséria. Miséria do corpo, do corpo quente. Miséria da cidade. E de seus sons. Explico. Tom começava sua disco. Cantava-me Luíza. Tocava. Num instante, a voz rouca do maestro brasileiro foi interrompida pela sonoridade estúpida das cidades. Era Cláudia Leite. Gritando suas histerias no carro-boate  do jovem vizinho. Pensei. Coitado de Tom. Ou ainda: Porque, Cláudia Leite? Porque? Porque?

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Sim. Escrevo. Minha solidão. Minhas horas. Horas em que deito os dedos no descanço de meu desespero. Escrevo com bebo. Repleto dos sentidos, dos signos. Escrevo como quem espera. Como quem desperta. Escrevo como quem se embriaga. Estado dionisíaco. Escrevo como quem desiste. Como quem insiste na vida, na existência. Como quem desiste da insônia, insone.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Acordo. Inda com as estruturas do pensamento em repouso, levanto. Uns minutos, e retomo a antiga habilidade de pensar. Pensar em nada. Os primeiros minutos do dia são silêncio. A água fria no rosto incólume dos pesadelos noturnos. O gole "seco" num café amargo e forte que desce às vísceras queimando os germes que sobreviveram às noites sem a escova de dentes. As cordas do violão. Um sentimento. Espero. Apenas a insistência do silêncio do pensamento que permanece pensando em nada. Desisto. Melhor dormir novamente. Espero o entorpecimento televisivo atuar. Mais alguns minutos, e durmo. 

segunda-feira, 28 de março de 2011

Caminhada. Para uma vida empunhada nas pernas, nas andanças e nas paragens. Andarilho. Para uma vida aquecida pela vibração dos nervos e dos músculos cansados. As mãos ásperas. O peito arfante e os olhos cansados de tanta imagem e passagem. Enfim, caminhada.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Lembro dos antigos Sambas de Enredo. Do 9,5. Da deficiência melódica do meu samba. Não consigo esquecer a (im)competência julgadora dos que preferem os sambas-bumbuns. Eu prefiro Silas de Oliveira e Mano Décio da Viola. Prefiro Anescarzinho. Prefiro os bambas do Estácio. Prefiro Geraldo Babão. Mas não vou insistir no tema. Senão, acabo piegas. Reproduzindo ressentimentos vazios. Caminhemos. Ao samba! 

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Manifesto

Contra a insana-idade com que reinou a ideia nas representações pictóricas do mundo! Nada do mundo mesmo! Nada do real. Somente ideias e conceitos. Habitações sinistras em que o vazio se esconde. Contra a espectral forma que assumimos, nós, os “filhos” bastardos dos conceitos! Sonhamos com a filosofia e acordamos inteligíveis. Nós, os que éramos “carne”, matéria dada desde o tempo imemorável. Contra o discurso metafísico – esta grande poiésis! Lembrando Drummond: “A vida apenas, sem mistificação”. Contra os ideais nobres, altivos da caquética filosofia! Contra seu império abstrato e intelectual. Eis o urro de uma estética do toque, dos sentidos, do cheiro e do mau cheiro! A beleza! A antiga beleza! Somente absorvida na materialidade da coisa – e somente afirmada nela. Nada do ideal. Aos diabos com os arquétipos perfeitos! Por uma estética do corpo! Nós, as “putas” da filosofia, os vendidos ao perverso mercado do conhecimento! Criamos conceitos! Arrebatados por deles, neles nos exilamos. Agora, prostrados ante a criatura horrível que se encheu em vida! Esquecemos. Nós os fizemos, os conceitos! Já agora são eles que nos fazem a nós. Contra toda forma de sujeição. O além-homem. Mas esqueçamos isso, por enquanto. Pensemos. Quando nos insurgiremos? Eis o dia! Tratemos do plano!

Para uma desconstrução da idéia. Por um solapar infame das bases estruturais da filosofia ocidental. Esta que, desde sempre, aceitou-se subserviente das representações metafísicas e se dedicou ao lugar mais vil, mais insosso e mais cruel do discurso. Para tal “filha da cultura” conclamemos o enaltecimento do sensível! Conclamemos! Aos berros, aos urros! Com gritarias descontroladas! Como mulheres orgíacas! Eis o sensível! “Ecce”!

Com que sagacidade a idéia apoderou-se do real! Desde Platão, aquele infame! Não! Desde antes – muito antes! Mas aquele grego castrou-se nela espantosamente. Em dois, o mundo. Dois! No primeiro, moravam os “arquétipos”, aqueles perfeitos. Imperavam “senhores”, segundo os quais todos são. O segundo, o “sensível”. Pobre, baixo, reles. Mundos distintos. Um lá, outro cá. O da banda de lá fonte deste, da banda de cá! No de cá, cada coisa que existe é cópia daquele mais nobre que existe mesmo somente pelos lados de lá. Longe – muito longe! Somos todos como cópias imperfeitas! Sim! Cópias imperfeitas! Cópias imperfeitas da idéia! Eis aqui, novamente, a idéia. Velha ranzinza! Sempre aporrinhando o sensível como criança mal educada!

Contra a insensibilidade da idéia, o contato enamorado dos amantes. A nossa redenção! Nas praças, nas ruas iluminadas, nas pouco iluminadas, nas esquinas, nos botecos, nas boates, nas filas de banco, nas lojas, nas fábricas, nos beijos dos enlouquecidos, dos apaixonados. Eis a estética! A estética das sensibilidades! Eis o sentido primeiro – e último – da estética! Esta pobre! Enclausurada nas antigas domesticações da filosofia. Agora, aspirando à liberdade em si mesma se levanta contra a idéia! Insultando-a! A idéia nada possui da coisa mesma, não a representa. A coisa existe. A idéia, apenas uma abstração, uma invenção “humana”, por demais humana, persiste em dizer nada dizendo!

Lembremos Mallarmé, o poeta. Poemas são feitos com palavras, não com idéias. Somente a palavra é matéria, carne, corpo. Idéias são idéias. Idéias são abstrações da palavra. Deturpações da natureza mesma da palavra, a escritura. A carne. Mas nós beijávamos o sentido intelectual das coisas, sem as coisas mesmas. Tocávamos os fantasmas, as imagens! Quedávamo-nos nas idéias, adormecíamos nelas. Nelas habitávamos desde longo tempo. Ignorantes de que cá estávamos de fato. Lembremos Pessoa. “Há metafísica bastante em não pensar em nada”. Para além das representações fantasmagóricas, para além das construções metafísicas, para além das ilusões precárias do discurso, o sensível, o dado, o real. E com que armas travarão os futuros! Nietzsche! Pessoa! Drummond! Glauber! Iñarritu! Eis as armas de uma estética do contato, do sujo, do impróprio!
Meus escritos são aforismos. Intempestivo, caminho nas palavras. Dado aos silêncios. Uma vida de silêncio e gozo. Sempre, aos ouvidos, uma canção. Não há existência possível fora da arte. Metafísica de artista? Não. Apenas um dado da realidade. Essa assunção da racionalidade estética como princípio fundante da existência. Sempre estive nesse estado inebriado do existir como arte. Melhor calar.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Sobre Carnavais, Mazu!

Sim, meu caro. Deixemos vir o Carnaval. Escrito, assim, maiúsculo. Deixemos vir a saudade. Lembranças. Um dia desses veremos o destino. Veremos o acontecimento. Nos veremos como acontecimento. Simples estado. Fluxo. Passagem. Esse desatino do carnaval, que duro eternamente! Essa ebriedade, que nos entorpece! Que persista! Deixemos vir o caos. Deixemos vir o ocaso. Sejamos, apenas. E sejamos, sem a necessidade doentia das definições, dos conceitos. Sejamos, apenas. Nas cordas de nossa instrumentalidade amadora. Sejamos, apenas. Deixemos prevalecer nossa quietude diante da existência. Nossa trânquila [in]trânquilidade. Genipapo Absoluto. Deixemos o lirismo banhar nosso desvario, nossa insanidade. E que o carnaval nos envolve! E que a embriaguez nos absorva!

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Sobre infâncias, Mazu!

Ouvindo Caetano. Estrangeiro. Minha infância, assim, recordada em algum momento de silêncio da existência parece deixar uma res de saudade. Lembrar de estar na vida com a trânquilidade do não-estar. Da obediência cega. Da desobediência astuta. Dos devaneios. Sobre futuros. Hoje, resta o passado. E a escolha inescrupulosa do destino, do próprio destino, de sua autoria. Hoje, resta a tristeza de haver estado no mundo, num momento tão propício ao desvario, de modo por demais sóbrio. Existência religiosa, exigência religiosa. Meu amigo Mazu. Nossas conversas sobre o destino. Sobre o passado. Meu amigo Mazu. Nossos desatinos atuais parecem resplandecer na janelas das almas. Ou me engano? Prefiro estar, assim, ouvindo Caetano. Lembrando, finalmente, o que ficou daquele passado desgastado pelo demasiado peso da moralidade.

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Um conto e a noite

Sobre músicas e cellos! Sobre destinos! Sobre os demônios que circulam nas ruas. Madrugadas. Caminhadas. Bares. Sinto o tempo nas lágrimas dos olhos dos outros. Nos desejos. Volto pra casa abatida, desencantada da vida. Minhas rondas pelas madrugadas das cidades. Minhas caminhadas pelos bares da cidade. Os mais pequenos. Os mais nobres. Os que vendem cachaça, apenas. Os que se regalam em vinhos finos, whiskies caros. Eu prefiro os botecos. O balcão de pedra fria. A sujeira das bebedeiras passadas. Dos porres antigos. Dos antigos notívagos. Prefiro a conversa desnecessária dos bêbados antigos. Não gosto da conversa "social", escritório, dos homens de fina conduta. Prefiro as baixarias dos pequenos, dos reles, dos que não querem destino, dos que não querem o próspero, dos que se quedam, aturdidos, com a pequenez da própria existência. Ouvindo Aldir. Vida Noturna. Histórias, reias, de um boêmio de fato. Um cigarro (que não fumo!). O desespero da chuva. O retrato. O garçom. Vivo à espera dos bares, das noites, das luas, do perambular desatinado. Compreendendo a existência como passagem, como não-acúmulo, como efemeridade, como vazio. O gosto do conhaque que nos resta nos lábios nas manhãs seguintes. Ressacas. Mais vazios.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Sobre banheiros e afins

Tenho considerado a baixeza de nossa existência. Ainda mais. Nossa baixeza fisiológica. Ainda mais. Nossa baixeza metafísica, ontológica, essencial.  Como é vil, esse nosso sistema digestivo! Expelir nossa vileza em peças de porcelana. Em banheiros particulares, públicos. Em vias públicas. Nas árvores. Nos muros. Em paz. Em desespero. Munidos. Jornais, livros, games. Sempre considerei esse instante o mais baixo de nossa existência. O mais degenerescente. Instante único em que nossa efêmera dignidade se esvai como que por completo. Assim me sinto: indigno. Para a baixeza de nosso sistema digestivo, a glória do silêncio! 

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Meu peito de pescador

Hoje? Rotinas. Pagamentos. Burocracias que a vida inventada exige. Portas giratórias. Impressão de boletos. Senhas. E a paciência de quedar a vida nos assentos de espera do Banco do Brasil. Ar refrigerado. Olho atento à tela que anunciaria minha hora. C756. Os apitos, aos desatentos. Nos ouvidos, Milton Nascimento. Eu pescador. "Eu que aportei / Nas paragens do desejo". Milton cantando. E eu cercado da segurança necessária àqueles que vivem com as mãos sujas dos papéis, da frialdade, de uma humanidade perdida nas gavetas, da beleza esquecida nas negociações das riquezas de outrem. Havia uma moça bonita. Branca. Aquele branco pálido, saudade de Sol. Há poucos, caminhava pelas vielas do Rio de Janeiro. Madureira, Lapa, Ipanema, Penha. Sol. Em tudo, um pouco de Sol. Na alegria dos botequins, das pessoas gesticulando como italianos, nas praias, nos sambas, nas quadras das Escolas de Samba. "Eu que fiz, dos meus sonhos, meus navios / Eu que fiz velas, de rimas / De canções, o meu pesqueiro / Eu que armei redes de estrelas". Milton. Ainda nos ouvidos. De Sol em Sol. De madrugada em madrugada. E eu? Ainda à espera. C755, anuncia a grande tela. Em minutos, será C756. Eu vou me levantar, dirigir-me ao caixa. Será um homem? Uma moça? Uma moça de beleza pálida, como a outra? C756, anunciada no letreiro. Mais um dia burocrático, cumprido à risca, sem falhas. 430,20 R$. Enfim, mais um mês debaixo de um teto. Onde faço, de minha vida,  arte. É preferível assim.   

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Ando vagabuno. Morrendo, aos poucos. Sem a pressa dos ternos, dos sapatos duros. Com a "vagareza" das pernas que caminham direções indecisas. Em pouco, estarei no Rio de Janeiro. Dois dias, viajo. Uma espécie de estágio para as pernas trôpegas. Lapa. Suas vielas. As personagens que se entrecruzam diariamente. As mesas envelhecidas dos botequins. Cansadas do vapor que está em tudo. Vou. Ser um pouco mais eu, mais vagabundo. Isso me devolve.