terça-feira, 31 de maio de 2011

Entre Chopin e Clara Nunes: uma guerra!

Volto a Chopin. Concerto para Piano #1 em Mi Menor Op. 11. B. 53-2. O silêncio do eremita que tenho sido nos últimos dois dias, ressoam em cada nota, acorde, arpejo. E eu? Arquejo, apenas. Com o incômodo ininterrupto do estômago mal alimentado. Noite regada a whisky e schweppes. Ouço. A solidão. Seus silêncios. Suas tardes longas. E noites intermináveis. Os de espírito forte, os que se dedicaram ao silêncio, resistem! Os que aceitaram a finitude das existências e o não-sentido como potência de si mesmo, desbravam os silêncios com grandeza! E a solidão volta! E, aos berros, exige silêncio! Eu me sobreponho ainda mais uma vez! Transvaloração de todos os valores! A máxima nietzscheana! O ímpeto! Essa guerra! Pensamento e silêncio travam uma batalha incansável, austera! Lutam! Chopin! Eis minhas armas! Chopin! E a embriaguez do whisky, que me faz cantar os sambas mais bonitos! Artifício! Os agudos! Os graves! Clara Nunes! O espírito, que, agora, insuflado e túrgido de coragem e trompas e trompetes e tímpanos, parece vencer! O peito, ainda que exausto, regozija-se! Vencido o silêncio, volto a Chopin! E descanço!

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Das dores no corpo

Triste estar sozinho. É tudo tão silencioso. E o silêncio, esse vício nefasto! Ouço Chopin. Apenas para expurgar as dores que me perduram no corpo. Experiência etílica inevitável, também denominada ressaca, e que pode ser docemente vivenciada, também, somada à tristeza e ao desespero. Ciência dos desregrados? Quem sabe?
Meta o dedo na logia, moça
Metodologia
Deixe a louça e tire a roupa, moça
Hora da orgia
E a orgia é só felicidade, moça
Adoça o azedo da agonia

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Sobre o som

Tenho os ouvidos atentos. Ainda que cultive o silêncio, ouço. Inevitável, essa existência auditiva! E como são estranhos os sons da cidade! As janelas, noites inteiras, gemem! Os carros, buzinam! Os homens espirram, escarram, conversam! E como conversam! Futilidades, frivolidades! Desmanchados em riso! Um riso demoníaco, que se expande, expande, expande! Sonoridade! Insanidade! Eu? Eu ouço absurdos, apenas! Apenas! Uma imensidão de palavras estúpidas! Histerias e histrionismo! Exageros! As palavras da multidão, do povo! Dos que rezam em cada sentença! Rezam quando gemem! Rezam quando ensinam! Ando cansado da sonoridade das cidades! Dos motores! Do canto dos pássaros que acordam sempre cedo! Mania de metrópole! Eu, portanto, vou regressar ao silêncio. Volto em breve!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Sobre o último Domingo

E o mundo, dando de ombros para os que, trôpegos, rezam suas idiossíncrasias, caminha. Do outro lado da rua, as meninas, moças de família, olham espantadas as prostitutas que cantam suas alegrias na decrepitude de um bar de esquina. Bares. Eu prefiro caminhar entre os mais baixos, entre as más companhias. Prefiro a boca-suja dos que se dedicam a esquecer a existência com sinceridade e desespero. E o mundo, dando de ombro, esquece-nos! Ignora-nos! Eis, a nossa felicidade! A felicidade mais intensa: o esquecimento! E as meninas, agora sedentas, com os seios sobressalentes e arfantes, nos olham com inveja! Somos felizes! Nós, os que se devotam ao esquecimento! E essa nossa felicidade estapea a suas medíocres existências, reduzidas que são aos valores, ao polimento dos valores mais arcaicos! E o mundo, dando de ombros, ri! E nós rimos todos! Extasiados com a embriaguez do álcool! Extasiados com a embriaguez da liberdade! Da liberdade de existir, apesar dos outros!  

Retomando os cadernos antigos III

O poeta explora a poesia pela insônia
e a musculatura de uma coxa dura é o espasmo,
pura sensação, colapso!
Corpos são placas tectônicas!
E a paixão é a evolução da espécie!

Retomando os cadernos antigos II

Cala boca, José
E arranca do teu corpo essa roupa, José!
Lança essa vergonha no chão!
Larga a louça, José!
Deixa de banhar os utensílios!
Deixa de acalmar os teus delírios!
Que eles são feitos de fogo!
Esqueça os teus livros, José!
Que são vento sem destino!
Deita ao meu lado, José!
Que o sentido desfalecerá!

(Algum dia de 2008)

sábado, 14 de maio de 2011

Eu, caro amigo, prefiro a simplicidade da gelada bebida nos balcões de mármore, naqueles dias em que se bebe aos poucos, sem a pressa costumeira do cotidiano, sem o cansaço das burocracias. Trabalho. Universidade. Eu prefiro o gosto amargo das conversas desprovidades da seriedade reflexiva das filosofias e de seus filósofos. Ando com saudades dos antigos. Ando vasculhando os antigos. Procurando-me. Antigo. Ando com saudades da infância. Eu. Que pensava distante essas sensações! Parece que hoje se aproximam. Sensações estranhas. Ando com as costas doloridas. Efeito do tempo. Costas e pensamentos. Parecem, ambos, doer. Continuemos. Por enquanto, as saudades da gelada, da simplicidade de um copo americado brindado, conscientemente, em vão. 

Retomando os cadernos antigos!

Nunca fui poeta

Quando me disseram poeta, ri
Nunca fui poeta!
E se me afirmam alcóolatra, aplaudo!
Aproximaram-me do mundo, ao menos!
É um erro grave dizer-me um e outro!
Eu, que nunca fui nada!
O que de bom ou reles fui, fez-se nada!
Hoje, ainda, fui ainda menos!
Não busquei formar-me!
Não li os doutos!
Sequer ouvi as sinfonias!
Pretendia, mesmo, era esquecer-me!
Enfim,
Lembrei-me de escrever se havia sido!
(...)
Perdi o tempo!

(28 de Novembro de 2008)

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Tenho poucos leitores. Satisfeito. Nessa semana, uma pessoa leu minhas palavras. Estou quase certo que seja você, Mazu! Andemos com nossa solidão inescrutável, com nosso silêncio primordial que, na verdade, é sonoridade velada. Eu, sinceramente, agradeço o tempo devotado às palavras do antigo amigo. Palavras são assim. Quando não lidas, dedicam-se a ocupar um silêncio por demais severo. Eu, com sincero coração, ainda prefiro o silêncio.