quarta-feira, 20 de abril de 2011

Sobre o outro

Penso nos outros. Na incomensurabilidade dos outros. Esses outros. E tantos outros. Caminhando com suas vidas pelas vielas da vida mesmo. Encontrando sentidos. Aceitando sentidos enlatados. Perdendo os sentidos. Penso no outro como uma espécie de espetáculo. O espetáculo big brother, o outro-exposto. Penso o outro como uma espécie de vazio. Ou ainda, o outro como abismo. Queria enxergar essa dimensão, tão profunda, do outro. Ainda mais triste. Penso no outro-espelho. Apenas o lado inverso do que sou. O outro de mim mesmo. Mas o avesso. O outro-eu. Logo eu, essa enormidade do tantos outros. Prefiro permanecer no silêncio, no outro como silêncio-de-si-mesmo. Na indiscernibilidade do outro como fenômeno. Das aparências, apenas os traços mais superficiais. Das formas, apenas aquelas que traçam linhas tênues, que se desmancham com a leveza dos ventos, com as brisas. Prefiro, mesmo, o silêncio do outro. A glória do silêncio do outro. Que nada dirá de si mesmo. Um eterno e imutável silêncio-de-si-mesmo. Prefiro, mesmo, o pensamento. Como estado único e individualizante de tantos outros possíveis. Eis, meu silêncio... 

Porque, Cláudia Leite?

Prefiro, apenas, narrar a experiência. Façam suas conclusões. Era terça-feira. Uma daquelas terças-feiras em que o sol, radiante e majestoso, brilhava mais que intensamente. Deitei-me. Na sala. Onde uma levíssima brisa, como que uma benção divina, aliviava os calores do corpo destinado ao descontrole térmico. Resolvi, então, para melhor aliviar uma tarde como esta, ouvir o disco que acabara de comprar, numa barganha sensacional com o dono do Sebo Cultural. O disco era Tom. Simplesmente Tom. Cantando, entre tantas, sua Luíza. Mas, infelizmente, meu dia estava fadado à miséria. Miséria do corpo, do corpo quente. Miséria da cidade. E de seus sons. Explico. Tom começava sua disco. Cantava-me Luíza. Tocava. Num instante, a voz rouca do maestro brasileiro foi interrompida pela sonoridade estúpida das cidades. Era Cláudia Leite. Gritando suas histerias no carro-boate  do jovem vizinho. Pensei. Coitado de Tom. Ou ainda: Porque, Cláudia Leite? Porque? Porque?

sexta-feira, 1 de abril de 2011

Sim. Escrevo. Minha solidão. Minhas horas. Horas em que deito os dedos no descanço de meu desespero. Escrevo com bebo. Repleto dos sentidos, dos signos. Escrevo como quem espera. Como quem desperta. Escrevo como quem se embriaga. Estado dionisíaco. Escrevo como quem desiste. Como quem insiste na vida, na existência. Como quem desiste da insônia, insone.