quinta-feira, 28 de julho de 2011

Caminhadas. Meus pensamentos. A vontade. Meu estilo na escrita, determinado pelos modos de minha existência, incomoda. Tenho existido. Chamas-me "inconsequente". Prefiro assim, desculpe. Escolhi assim. Prefiro o desregramento. Aversão à racionalidade? Talvez. Ou ainda, quiçá, uma espécie de desistência frente à contingência, caráter mais íntimo da vida mesma. Penso em existir apenas. Contas bancárias me cansam. "Aquariano" clássico, diz-me. Na sua voz, as definições parecem mais plenas. Ou ainda mais. Desde há tempo, essa procura - ou pergunta? - pelo sentido metafísico das coisas tem ocupado meus pensamentos. Deus? A linguagem? O não-sentido? O Eterno Retorno? Nietzsche? Não. O sentido das coisas? O corpo, os seios, as pernas, as coxas, os dedos, as mãos, os olhos, os cabelos, o pescoço, os pés. O sentido íntimo das coisas é o corpo, o desejo. O inebriamento instantâneo e eterno do orgasmo. Eis o sentido!   

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Deus. Uma pergunta. Observo, atentamente, os discursos proferidos. Meu velho amigo, Nilo Braga, do além-mundo, estigmatiza: Deus existe. Narrações do Bertini. Devo confiar. Ontem conheci uma senhora que me disse "Deus" com a vivacidade dos que se permeiam de esperanças. Deus. Penso. Algumas questões não deveriam ser narráveis. Eu ando preferindo o silêncio da escuta. A linguagem. Deus. Pensar Deus como símbolo, ainda que sob a égide do sentimento religioso da fé, parece uma saída possível. Pensar Deus como sentido. Preciso dormir um pouco. Ando com insônias terríveis.

domingo, 24 de julho de 2011

Escrevo

Escrever como quem se despe. Escrever como quem nasce. Como quem rebenta absorto da novidade na qual a realidade se planta terrivelmente. Escrever como quem, extasiado, vislumbra uma possibilidade para a existência. Assim escrevo. Como mulheres desgraçadas. Como mendigo, na baixeza própria da condição andarilha. Escrevo com parca habilidade, confesso. São só palavras arremessadas no espaço branco. Escrevo como quem se desespera, como quem expurga seus demônios, como quem clama uma benção, como quem clama pelo beijo arrebatador da amada, lançado a seus pés terríveis, que pisam fundo o peito do amado e ri-se do destino deste que, sob seus pés, anula seu estado metafísico. Escrevo como quem samba. Sem considerações demasiadas. Escrevo como quem transa. Sem maquinações posicionais, sem estratégias. Ou ainda, com estratégias traçadas no intenso do desejo, do descontrole. Escrevo como quem goza. Um instante, e as palavras saltam, desprevenidas, atingindo o âmago e o estado mais íntimo das humanidades. Escrevo como quem dorme, inocentemente. Escrevo como quem bebe. Com o destino do dia-seguinte. Escrevo como quem sonho, inconsciente!

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Tenho meus vícios. Antigos. Tenho também cultivado novos vícios. Vícios.

Hoje, enquanto pensava, resolvi por um novo projeto. Inveja, equilibrada, dos feitos literários do grande Moacyr Luz, em "Botequim de bêbado tem dono", lançado em 2008 pela Desiderata. Enfim, meu novo projeto consiste em descrever os bares pelos quais tenho andado, pelos quais andarei.

Nesse prefácio, no entanto, quero apenas me dedicar às primeiras proposições, sem as especificidades.

Vamos. Ao assunto. Há anos, sou frequentador assíduo de botecos, biroscas, botequins requintados, pés-no-chão temíveis, bares sem porta, bares com e sem balcão de pedra fria, bares frequentados pelo núcleo familiar mais tradicional, pelas prostitutas, pelos motoqueiros, pelos adolecentes ventindo roupas punk, pelos miseráveis, pelos esnobes, pelos políticos, pelos artistas. Bares calmos, agitadíssimos. Bares feios, bonitos, tradicionais, saudosos. Bares feitos nas calçadas, em casas antigas. Vi bares inaugurandos suas atividades. Vi bares encerrando suas serventias. Vi bares, simplesmente. São essas história, as colhidas nas longas horas em que o bar representou um desvio da vbida, que serão narradas, eventualmente, aqui. Do mais, volto em breve. 

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Prestíssimo: Um Conto (Parte I)

Acordou. Lembranças. Havia adormecido pensando no amor. Era Joana. Na cozinha, sentou-se. Silêncio. Era Joana. Essa presença inesperada de Joana nos primeiros instantes do dia lançou em seu espírito uma questão irresistível. Era o amor. Pensava. O amor, assim, traduzido na pele de Joana. Nos poros. Nos olhos. Nos seios. Era Joana. Levantou-se. Eram oito horas. Exausto, porém leve, vestia camisa, calça, sapato. Era o amor. As coisas, os móveis, os talheres, os chinelos, o versos antigos, deitados em velhos cadernos, os perfumes. Tudo perdera sentido. Era Joana.    

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Caminhando. Ouvindo Márcia. 1974. Caminhos. Tenho experimentado a vida sem as distâncias que nos acostumamos a suportar. Tenho caminhado pouco.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Cansado dos esquemas e das complexidades filosóficas. Prefiro o desespero da vida intensa. Prefiro a vida vivida em sua intensidade, em sua condição mesma. Sem os conceitos. Prefiro a coragem de me tornar outro, de assumir a vida como possibilidade, como fresta, como ruptura agressiva. Eu prefiro a radicalidade das oposições, das contrariedades, daquilo que não se explica, daquilo que não se diz. Eu prefiro o entorpecimento do estado dionisíaco, da euforia dionisíaca, da quebra com os paradigmas que construí. Paradigmas que não me queriam outro. Prefiro a perdição do desprendimento com os modelos que me foram dados prontos. Estou sentado à mesa de uma sala que desconhecia. Em gesso, sobre o móvel, uma peça retrata uma ceia, a Santa. Ando cansado com representações. Prefiro o estado inebriado do esquecimento. A reunião, em torno do Cristo. Eu prefiro a solidão e o silêncio. Tenho experimentado as palavras, os poemas, as canções. Cansado das precauções. Prefiro o risco, a berlinda, o jogo, a disputa. Cansado das domesticações do gosto, do rosto, das roupas. Prefiro o desnudamento. Ah! O desnudamento!

terça-feira, 12 de julho de 2011

Ando com o tempo à espreita. A espreita dos acontecimentos em meu espírito. Do que escrevo, pouco é lido com a sinceridade de um rosto corado. O que não tem mais jeito de dissimular! Estou cansado. Escrevo mais tarde...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Quem vai escapar ileso do medo e do desatino? Ando descrente do destino. Do destino como sobrenaturalidade. Tenho pensado no existencialismo como uma saída coerente. Somos todos, inevitavelmente, construção de nós mesmos. Penso na existência como acontecimento. No entanto, todo acontecimento é produzido por uma gama de escolhas que fazemos. Escolhas. Desatino de Deus! Livre arbítrio. Escolhemos, e isso é tudo! Escolhemos, simplesmente! Escolhemos! Eis nossa condição mais trágica, mais humana, mais essencial, mais substancial, mais terrível, mais carnal! Eu quero é botar me bloco na rua! Brincar! Botar pra gemer! 
Volto. Com palavras outras. Há pouco, meu estado barroco incomodou alguns leitores. Eu prefiro escrever pelas vielas dos textos, pelas idas, pelas vindas, pelas entrelinhas, com os sentidos ocultos nos silêncios. Aliás, há muito tenho permanecido devotado a meu silêncio. Apreciando outras vozes. Esquecendo a minha. Uma voz. Para quem quer se soltar, invento o cais. Milton. Invento mais que a solidão me dá! Ouço, nos últimos tempos, as injurias dos que me dizem um tresloucado, uma espécie de maldito, daqueles que confeccionam os seus destinos na radicalidade das escolhas. Talvez o seja. Afinal, nunca fui dado demasiadamente à racionalidade. Mas advogo - como se fosse, mesmo, ouvido! Eu prefiro a ruptura dolorosa a dor paulatina do conta-gotas. Prefiro o silêncio abrupto. Triste. Ando com os pés cansados. Culpa do sapato? Tenho, como disse outrora, frequentado os botequins mais sujos de minha cidade natal. Aprendendo com a crosta de sujeira dos balcões como se desenrolar na vida mesmo, sem as máscaras, sem a polidez, sem as estruturas dos que se fiam às explicações sobre tudo. Cada crosta de sujeira, me recorda o meu estado mais íntimo, desvela meu espírito como jamais o desvelou a Teologia que aprendi desde a tenra infância. Esta ou aquela gota de óleo derramada da pastel que o China me frita antes de surgirem os primeiros raios do sol, me dizem: "És assim!". Sou. Esqueço. Sou assim.